terça-feira, 27 de setembro de 2011

Um rapaz na rodoviária e uma breve reflexão

Nestário Luiz

Era uma segunda-feira. Noite agradável, calor. No intervalo das aulas na faculdade, um amigo e eu resolvemos ir até a rodoviária beber alguma coisa e bater um papo.

Conversávamos tranquilamente quando fomos abordados por um rapaz de uns 30 anos. Barba bem feita, cabelo curto. Bermuda, camiseta. Uma mochila. Acho que ele não disse o nome, mas se apresentou como uma pessoa que tinha acabado de sair da prisão e que estava esperando um ônibus para São Paulo. Estava com fome.

Em grande parte das abordagens desse tipo pelas quais as pessoas passam todos os dias, costuma-se pedir dinheiro. Nesses casos, confesso que hesito em ajudar, já que não sei o destino do dinheiro.

Naquele dia, porém, na lanchonete da rodoviária, o rapaz queria comer. Dissemos para ele pegar um salgado e um refrigerante. Agradeceu. Comeu. Comeu com prazer, deu gosto de ver. Agradeceu. Terminou a refeição com um gole de café. Agradeceu novamente. E tomou o seu rumo.

Na volta para a faculdade, meu amigo e eu refletimos sobre o que havia ocorrido e chegamos à conclusão de que o rapaz falara a verdade. Queria comer, o cidadão. Se ele realmente estava preso e se iria mesmo para São Paulo não saberemos. Mas, naquele momento, o que interessava era ajudá-lo a comer um salgado e tomar um refrigerante.

Eu gosto de acreditar nas pessoas, mesmo que me frustre depois. Se a pessoa não é aquilo que você imaginou inicialmente, pelo menos não houve um pré-julgamento. Digamos que você tenha feito a sua parte e a outra pessoa, não. Você confiou, acreditou. Ela lhe decepcionou.

No caso do rapaz da rodoviária, meu amigo e eu fizemos a nossa parte, já que o que nos foi pedido estava ao nosso alcance. Aquele cidadão não vai nos decepcionar, pois é bem provável que a gente nunca mais o veja, mas eu espero sinceramente que aquele salgado e aquele refrigerante tenham contribuído, mesmo que quase insignificantemente, para que o rapaz esteja em São Paulo ou em qualquer outro canto, reconstruindo sua história.

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