Nestário
Luiz
Era uma
segunda-feira. Noite agradável, calor. No intervalo das aulas na faculdade, um
amigo e eu resolvemos ir até a rodoviária beber alguma coisa e bater um papo.
Conversávamos
tranquilamente quando fomos abordados por um rapaz de uns 30 anos. Barba bem
feita, cabelo curto. Bermuda, camiseta. Uma mochila. Acho que ele não disse o
nome, mas se apresentou como uma pessoa que tinha acabado de sair da prisão e
que estava esperando um ônibus para São Paulo. Estava com fome.
Em
grande parte das abordagens desse tipo pelas quais as pessoas passam todos os
dias, costuma-se pedir dinheiro. Nesses casos, confesso que hesito em ajudar, já
que não sei o destino do dinheiro.
Naquele
dia, porém, na lanchonete da rodoviária, o rapaz queria comer. Dissemos para
ele pegar um salgado e um refrigerante. Agradeceu. Comeu. Comeu com prazer, deu
gosto de ver. Agradeceu. Terminou a refeição com um gole de café. Agradeceu novamente.
E tomou o seu rumo.
Na
volta para a faculdade, meu amigo e eu refletimos sobre o que havia ocorrido e
chegamos à conclusão de que o rapaz falara a verdade. Queria comer, o cidadão.
Se ele realmente estava preso e se iria mesmo para São Paulo não saberemos.
Mas, naquele momento, o que interessava era ajudá-lo a comer um salgado e tomar
um refrigerante.
Eu
gosto de acreditar nas pessoas, mesmo que me frustre depois. Se a pessoa não é
aquilo que você imaginou inicialmente, pelo menos não houve um pré-julgamento.
Digamos que você tenha feito a sua parte e a outra pessoa, não. Você confiou,
acreditou. Ela lhe decepcionou.
No caso
do rapaz da rodoviária, meu amigo e eu fizemos a nossa parte, já que o que nos
foi pedido estava ao nosso alcance. Aquele cidadão não vai nos decepcionar,
pois é bem provável que a gente nunca mais o veja, mas eu espero sinceramente
que aquele salgado e aquele refrigerante tenham contribuído, mesmo que quase
insignificantemente, para que o rapaz esteja em São Paulo ou em qualquer outro
canto, reconstruindo sua história.
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